A Dança dos Fantasmas- SIOUX

A Cerimônia.

A dança geralmente inicia-se no meio da tarde ou depois, após o crepúsculo. Quando começa a tarde, há sempre um intervalo de uma ou duas horas para o jantar. O anuncio é feito pelos apregoadores, homens velhos que tomam a seu cargo essa função por um acordo tácito. Eles percorrem a aldeia gritando as pessoas que se preparem para a dança. A pintura e a vestimenta é um trabalho preliminar que exige duas horas aproximadamente. Quando tudo esta pronto os lideres se encaminham para o local da dança e dão-se as mãos, formando um pequeno circulo. Sem saírem de seus lugares entoam a canção de abertura, consoante um acordo prévio, a uma suave meia-voz. Depois de repetir a canção a canção inteiramente, elevam a voz à sua potência plena e cantam novamente, desta vez girando o circulo vagarosamente. O passo é diferente do da maioria de outras danças de índios, mas muito simples; os dançadores movimentam-se da direita para a esquerda, seguindo o curso do sol, avançando o pé esquerdo e seguindo-o com o direito, mal levantando os pés do solo. Por este motivo os chochones chamam-na de “dança do arrasto”. As canções são todas adaptadas ao compasso simples do passo da dança. À medida que a canção se eleva e se intensifica as pessoas saem de suas tendas individualmente e em grupos e, uma após outra, unem-se ao circulo até que um grande numero de homens, mulheres e crianças, cinqüenta ou quinhentos, esteja participando da dança. Quando o circulo é pequeno cada canção é repetida durante um certo numero de vezes que o circulo gira. Se for grande, a canção é repetida somente o tempo que durar um giro do circulo, o que é medido pelo regresso dos lideres ao ponto de partida. Cada canção começa da mesma maneira: o canto é iniciado a meia-voz e os cantores permanecem nos mesmos lugares; depois cantam a plena voz e começam a girar o circulo. Fazem-se intervalos entre as canções, mais especificamente depois do inicio dos estados de êxtase, quando os dançadores largam-se as mãos e sentam-se para fumar ou falar durante alguns minutos. Nesta oportunidade os lideres as vezes proferem alguma comunicação ou sermão breve, ou relatam a recente experiência de estado de êxtase do dançador. Ao segurarem a mão um do outro, os dançadores geralmente entrelaçam seus dedos, em vez de agarrarem as mãos como nós o fazemos. Só um índio conseguiria equilibrar a manta sobre os ombros nessas circunstâncias. Pessoas de idade com passos incertos e apoiadas em cajados e crianças pequenas que mal aprenderam a andar às vezes participam do circulo, e os dançadores mais vigorosos ajustam seus movimentos à debilidade dessas pessoas. È comum ver uma mulher com um bebê amarrado as costas unir-se ao círculo e dançar, mas se ela demonstrar o menor sinal de que vai experimentar uma comoção amigos e vigilantes afastam-na de seu lugar para que a criança nada sofra. Os cães são afastados da vizinhança do círculo para evitar-se que esbarrem em alguém que entrou em estado de êxtase e o acorde. Os próprios dançadores tomam cuidado para não perturbar aqueles que estão em êxtase enquanto suas almas estão no mundo espiritual. Usa-se a indumentária indígena completa: roupa de pele de gamo, pintura e penas, mas entre os sioux as mulheres deixaram de lado os cintos decorados com discos de prata alemã, porque o metal proviera do homem branco. Entre as tribos do sul, pelo contrario, as vezes usa-se chapéus nas danças, embora isso não esteja rigorosamente de acordo com a doutrina.

Não se usam tambores, chocalhos ou outros instrumentos musicais na dança, às vezes a uma exceção a esta regra quando um dançador individual faz uma imitação de uma visão de estado de êxtase. È particularmente neste aspecto que a Dança dos Fantasmas difere de todas as outras danças dos índios. Segundo se sabe, nenhuma tribo faz fogueiras dentro do circulo, com exceção dos Walapais. Os cheyenes do norte, contudo, fazem quatro fogueiras de maneira singular, fora do circulo, conforme já descrevemos. Na maioria das tribos a dança era realizada em volta de uma arvore  ou poste plantado no centro, com decorações heterogêneas. Nas planícies do sul, entretanto, só os kiowas parecem ter seguido esta pratica, pois as vezes dançam em volta de um cedro. Ao desfazerem o circulo ao termino da dança os participantes sacudiam as mantas ou xales no ar, cujo objetivo era afastar todas as más influências. Sob instruções posteriores do messias todos iam banhar-se no rio, os homens em um lugar e as mulheres em outro, antes de voltarem a suas tendas. A idéia de livrar-se de coisas malignas, tanto espirituais como físicas, banhando-se em água corrente, é algo por demais natural e universal e dispensa comentários…

James Mooney 1890

Sobre escritorajulia

Julia Queiroz nasceu nos pampas rio-grandenses, em uma noite fria de julho, no ano de 1960. Teve uma vida em contato com a natureza, embrenhada nas florestas e nos rios, visitando cavernas e cachoeiras. Uma vida o mais natural possível. Já há alguns anos, mora em Curitiba. Tem filhos, neto, e continua desfrutando de um espaço privilegiado pela natureza.
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